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Gestantes

Esta seção vai ajudar as gestantes a entenderem melhor o milagre da gravidez

Plantão Médico – Mapa Astral

O Professor-Doutor Delano estava de volta à sala dos médicos, e pegou o finalzinho da discussão sobre o abuso de cesarianas. Com seu tempo de “janela”, não precisou ouvir muito para entender o espírito da conversa. Dr. Delano também era adepto do parto normal e se entristecia com a epidemia de partos cirúrgicos que via a sua volta. No silêncio que se fez, após a tragédia narrada pelo anestesista, ele falou.

-“Vocês estão falando mal da cesariana marcada pelo obstetra, mas rapidamente vai chegar o tempo em que até disso vocês terão saudades…”

-“Por que, professor?”- perguntou um estagiário. –“Porque é cada vez mais comum a data do parto ser marcada por leigos, um astrólogo ou algo parecido”- respondeu o Dr. Delano.

-“E para algumas pessoas”- continuou o professor, -“fazer o mapa astral do bebê recém-chegado é tão importante quanto a primeira consulta de puericultura. E a data do parto é estabelecida em função da melhor conjunção astral. Maturidade do feto? Bom, isso é secundário… Em casos assim, ter um astrólogo de confiança é tão fundamental quanto ter um médico amigo da família. E isto me lembra de um caso acontecido recentemente com uma famosa socialite, Stephanie, todos vocês conhecem.”

-“Puxa professor, ela está sempre nas revistas, o que aconteceu?”- perguntou uma residente, bem curiosa.

-“Bem”- disse o velho professor…”
* * * * *

Stephanie tinha bons médicos e um bom astrólogo. Todo o futuro de seus dois filhos mais velhos foi desvendado por ele logo após o nascimento.

Ela era uma conhecida socialite, já beirando os quarenta anos, muito bonita, que sempre freqüentava as colunas sociais e as revistas semanais de variedades. Aliás, seu destaque era merecido, pois era uma brilhante profissional em sua área de atuação.

Normalmente uma pessoa calma, gentil e educada, Stephanie andava estressada após o nascimento de seu terceiro filho, uma menina. Talvez pelo fato de ter sido uma gravidez não planejada, que atrapalhou sua dedicação a um importante projeto profissional…

Stephanie agiu como de costume. Assim que ela e sua filha tiveram alta do hospital, marcou uma consulta com seu astrólogo. Mas ela estava com pressa e pediu um encaixe de urgência, pois na agenda lotada do profissional só havia vaga para o mês seguinte.

Bruno era o astrólogo. Sua vida profissional ia muito bem. O fato de atender pessoas da sociedade, como Stephanie, além de artistas famosas, havia impulsionado sua carreira. Seu consultório era sempre movimentado, e agora ele estava trabalhando em novo filão, a assessoria astrológica a empresas. Até algumas multinacionais estavam fazendo consultas com ele antes de realizarem seus investimentos.

No dia agendado, Stephanie foi ao consultório. O ambiente era amplo e a decoração sofisticada, como era de se imaginar. Vestindo terno e gravata, muito elegante, Bruno recebeu com deferência sua antiga cliente. Afinal, era graças à propaganda positiva de Stephanie, que Bruno possuía boa parte de sua nobre clientela.

A conversa se iniciou pelas amenidades. Mas logo em seguida Bruno começou o trabalho, perguntando sobre os dados do bebê. As informações fundamentais, como o horário e a data de nascimento, coincidiam com as que ele havia recomendado na consulta que Stephanie fizera durante o pré-natal.

Bruno conhecia bem sua cliente, sua condição econômica abastada e seus sofisticados hábitos de vida, que incluíam freqüentes viagens ao exterior. Mas percebeu que algo estava diferente no humor de Stephanie. Seria uma depressão pós-parto?

Após obter todas as respostas necessárias para a elaboração do mapa, Bruno concentrou-se no trabalho de realizar os complicados cálculos, recorrendo a ajuda de um poderoso notebook de última geração.

Enquanto aguardava o término do trabalho, Stephanie degustava um dos chás florais disponíveis na sala. Por fim, com ar solene, Bruno chamou-a e passou a apresentar o resultado de seu trabalho.

-“Dona Stephanie” – disse ele – “nunca vi um mapa tão favorável como este. Praticamente não vejo dificuldades no futuro de sua filha. Ela fará muitas viagens ao exterior e provavelmente seguirá uma carreira diplomática, podendo chegar a cargos de grande destaque no Ministério das Relações Exteriores. Ou talvez até à presidência de uma multinacional.”

Stephanie ouviu calada, sem interromper. Bruno continuou: -“Ela irá estudar nos melhores colégios do país ou do exterior, onde será uma das primeiras alunas da classe.”

Bruno observava Stephanie pelo canto dos olhos, e percebeu pelo semblante dela que alguma coisa não estava certa. Parou a leitura do mapa e perguntou: -“Dona Stephanie, há algo errado? A senhora está bem?”

-“Sim, estou”- disse ela com um ar estranho. – “Mas acho que o seu mapa é que não está bom. Há um detalhe que não lhe contei. Minha filha nasceu com a síndrome de Down, tem uma cardiopatia, inclusive vai ter de fazer uma cirurgia cardíaca. O que o senhor tem a dizer sobre isso?”

Bruno empalideceu e curvou-se como se tivesse levado um soco no estômago. Sentiu as pernas moles, seu pulso ficou acelerado e quase desfaleceu na cadeira. Suando frio, permaneceu alguns segundos em silêncio, depois balbuciou um pedido de licença e se retirou para uma sala interna do consultório. Entrou no banheiro, tirou a gravata e ficou longos minutos molhando a fronte e os pulsos, enquanto se recompunha.

Ele sabia que os modernos conhecimentos sobre a síndrome de Down comprovam que estas crianças têm um potencial muito maior do que se imaginava antigamente. E que com tratamento e estimulação adequados, eles podem surpreender. Especialmente quando são incluídos em todas as atividades comuns da sociedade. Bruno também estava informado de que existem atualmente muitos deles estudando em escolas comuns, alfabetizados e trabalhando em várias atividades diferentes.

Mas nada que sequer se aproximasse do futuro apresentado por ele para a filha de Stephanie.  Após quase meia hora, sentindo-se melhor, Bruno voltou à sala de consultas, onde Stephanie o esperava impaciente

Ele começou se desculpando, dizendo que não imaginava o que havia acontecido de errado. Disse ainda que, normalmente, a condição especial de sua filha apareceria no mapa, mesmo que não fosse relatada.  E que iria recomeçar o trabalho a partir da nova informação sobre a saúde da menina.

O novo mapa que foi apresentado a Stephanie ainda falava das viagens ao exterior, mas nada mais dizia sobre profissões futuras. Referia-se também a problemas de saúde, especialmente no coração…

Stephanie ouviu tudo em silêncio, agradeceu, se despediu e nunca mais voltou ao consultório. E também nunca mais recomendou o astrólogo para ninguém.

Até hoje, Bruno não sabe onde errou, se as limitações foram dele ou da astrologia. Também não chegou a uma conclusão sobre a motivação de Stephanie ao esconder aquela informação tão importante. Será que ela estava revoltada com o nascimento da filha e queria “descontar” em alguém? Ou ela queria apenas testar a capacidade dele e da astrologia de prever o futuro de alguém?

São muitas perguntas, que ficarão sem resposta. E a principal delas é: Afinal, quem pode prever o futuro de uma criança, com ou sem síndrome de Down?

Ruy do Amaral Pupo Filho
Pediatra, Sanitarista e Escritor

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