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Crianças de 2 a 6 anos

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Consumismo, como enfrentar?

 Que a sociedade moderna supervaloriza os bens materiais é questão que não carece discutir. Natasl chegando então – dá até calafrio em alguns… Porque hoje, o grande desafio da família é descobrir como educar de forma a que crianças e jovens não se deixem levar por valores que, longe de lhes garantir felicidade, acabam apenas envolvendo-os numa louca espiral de desejos e gastos crescentes, que quase nunca tem final feliz.

Sem dúvida, a primeira questão é lembrar que adultos consumistas dificilmente poderão enfrentar o desafio de forma convincente. O consumismo contamina os adultos também, e não poucos buscam felicidade “comprando”. Em geral, acabam infelizes, incompletos. Colocar a felicidade pessoal na aquisição de objetos pode até propiciar prazer. Momentâneo e fugaz, porém.

Consumir significa “gastar, aniquilar, anular” ou ainda “ficar reduzido a cinzas” . O processo é mesmo assim: o prazer de comprar se extingue por si só, para retornar logo adiante, como uma fênix ressurgida das cinzas. É, portanto, um processo sem fim e dificilmente as pessoas poderão continuar por toda vida atendendo a desejos – seus e de seus filhos depois. 

Preocupa-me constatar que, a cada dia, mais pessoas adotam o modelo subliminarmente inculcado, sentindo-se compelidas a adquirir mais e mais produtos (muitos desnecessários ou similares aos que já possuem).

Quantos de nós tínhamos, há dez anos, um celular? E quantos ainda estão com o primeiro modelo adquirido, aqueles enormes, Deus o livre, que horror! Sem críticas a quem gosta de estar “na última moda hi-tech”, proponho somente que, por um instante, um segundinho só, pense se trocou a TV ou o telefone móvel porque realmente precisava.

Necessidade ou impulso? Qual foi a relação custo-benefício da nova aquisição? Tem gente que ainda nem utiliza todos os recursos do atual ícone de consumo, mas não admite viver sem os waps, wips e outras siglas indecifráveis que cada modelo mais recente agrega. Tem horror em ao menos pensar em ler aqueles manuais, mas que o telefone novo está na bolsa, está… Ao menos isso! Porque carro importado ou do ano, TV de plasma – bem grande – não deu ainda para comprar, talvez nem dê, mas o celular colorido, fininho, que troca de “roupa” deu… Então, ótimo! Não que eu ache que não se deva comprar o que se quer (desde que com verba ganha honestamente, claro). A questão, porém, é exatamente essa: a gente queria mesmo? Ou alguma coisa ocorreu (influência das mídias, talvez?) que nos fez pensar que era imprescindível trocar, e o quanto antes?

Voltemos aos nossos filhos. Os que desejam vaciná-los contra a febre do consumo irracional devem começar mantendo-os a par da situação financeira da família, especialmente, fazendo com que compreendam de que forma o dinheiro “chega” em casa: através do trabalho diário. Ele não “aparece” na carteira do papai ou da mamãe magicamente… Famílias têm gastos fixos mensais que precisam ser honrados – filhos podem e devem saber sobre eles;  também precisam saber que é importante guardar uma parcela, mesmo pequena, para extras (uma infiltração no teto, uma geladeira que pifa etc.)

O mais importante, porém, é discutir o impulso que leva milhares de pessoas a acumularem mais e mais “coisas”, às vezes pagando juros sobre juros, vivendo apertados, cortando itens talvez mais importantes e transformando a própria vida numa eterna loucura. Viver no limite total do orçamento (ou além dele) é se condenar ao desequilíbrio a qualquer evento não programado (uma doença, por exemplo). Por isso é bom manter os filhos informados especialmente, sobre a que sua família dá, de fato, valor.

Mais cedo ou mais tarde, nossos filhos conviverão com pessoas de maior poder aquisitivo. E se foram acostumados a olhar sempre para quem tem mais, para os estão a cada fim-de-semana com novas roupas e possibilidades financeiras para fazer mil programas, independentemente de ser sábado ou segunda-feira, as coisas podem ficar complicadas… Não prometa o que não pode comprar – nem se endivide para isso; deixe claro que se tivesse dinheiro sobrando até compraria, mas não deixe de dizer que não considera importante nem necessário… Em outras situações, procure mostrar que poderia lhes dar o que pedem, mas – em vez de sair correndo para chegar à loja antes que feche – faça seus filhos saberem onde se situam as prioridades da família, como estudos, comida farta, segurança, saúde, conforto em casa.

Lembre-se que não é nada mau para uma criança ou jovem desejar coisas sem conseguir logo, assim de mão beijada, rapidinho… Esses desejos não realizados podem bem acabar constituindo fonte importante de desejo de conquista pessoal. É muito saudável para o jovem querer realizar, produzir, trabalhar para alcançar o que os pais não lhes deram ou não puderam dar – ou às vezes até preferiram não lhes dar.

É preciso corrigir a idéia torta – e muito comum hoje, especialmente entre as classes A e B – de que os pais têm obrigação de aos filhos carro, viagens ao exterior, festas apoteóticas etc. Do ponto de vista educacional não é nada salutar que eles tenham convicção de que nunca precisarão lutar para conquistar alguma coisa. Desejos não concretizados podem até produzir alguma frustração – mas não se assustem, nem toda frustração é negativa, como pensa a maioria. Muitas delas são a base que impulsiona as novas gerações a produzir, se independentizar, a ter o “seu dinheiro” (não o da mesada, é claro), para não ter que “prestar contas a ninguém”.

Bem orientados eticamente, o “não ter tudo” conduz à necessidade de estudar, trabalhar, produzir, enfim.

Dediquemo-nos sim, de corpo e alma – a dar aos filhos o que é essencial: estudo, formação moral e ética, princípios e objetivos de vida. O resto (roupas de grife, dezenas de tênis e roupas) é secundário e como tal deve ser encarado. E, cá para nós, não é uma maravilha (e um alívio…) saber que você pode dar menos bens materiais, para que seus filhos sejam mais gente?

Tânia Zagury
Escritora, Professora e Educadora

 
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