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Bebês até 1 ano

Tudo o que você precisa saber sobre as primeiras descobertas da criança estão aqui. Entenda o que acontece durante essa fase, desde recém nascidos até o primeiro ano de vida!

Peito ou mamadeira

Manuela não tinha essa dúvida. Ela havia se preparado com leituras, exercícios e estava convicta de que amamentar sua filhinha no seio era a melhor opção. Por muitas razões.

A praticidade: o leite materno está sempre pronto, disponível e na temperatura certa. Nada de mamadeiras, esterilizadores e aquecedores.

O custo: zero. O leite materno é grátis, e não falta nunca. É natural, produzido pela mãe natureza para os bebês humanos. Bem diferentes daqueles caríssimos leites de vaca “parecidos com o leite materno”…

A proteção: contra as alergias respiratórias (Paulo e ela tinham rinite) e contra os mais diversos tipos de infecções e doenças.

O relacionamento com o bebê: a importância psicológica da amamentação é grande. E a ligação entre a mãe que amamenta e o filho que mama é muito forte. Além disso, as crianças amamentadas são mais inteligentes!

Manuela conhecia essas e muitas outras vantagens. Mas, na prática, a teoria é outra. Beatriz, apesar de ter nascido com bom peso (mais de três quilos), teve dificuldades para pegar bem o peito. Nas primeiras horas dormiu muito, e quando começava a sugar o seio logo largava e dormia novamente.

A mãe de Manuela, que a acompanhava no quarto, não teve dúvidas. Chamou a enfermeira e pediu uma mamadeira. –“Minha filha não tem leite, traga uma chuca, rápido, pois minha neta está enfraquecendo e vai morrer de fome!

Por sorte, a Maternidade Bom Parto possuía um bom serviço de apoio à amamentação, onde trabalhavam experientes fonoaudiólogas, com especialização na área. Seu trabalho era feito em conjunto com os pediatras. Uma das fonoaudiólogas, Tônia, foi chamada para atender ao caso.
Como Manuela já estava instruída e preparada, o trabalho inicial de Tônia foi de acalmar e esclarecer a avó. A mãe de Manuela (e a de Paulo também) pertenciam à geração que não amamentou seus filhos. Foram vítimas da propaganda, que vendia a mamadeira como algo saudável e moderno. Pacientemente, Tônia explicou as vantagens do aleitamento, suas dificuldades iniciais, e a necessidade do apoio dela para a filha e neta.

“Nos primeiros três dias, a mãe produz o colostro, um leite especial rico em defesas imunológicas.” – disse ela. E prosseguiu –“ Apenas após o terceiro dia, o leite descerá, em quantidade maior. Mas a natureza é sábia, e nós apenas vamos ajudar, favorecendo a pega do peito e verificando a sucção da Beatriz.”

Como a bebê estava muito sonolenta, Tônia tirou as roupas da menina, que logo despertou. Ajudou a mãe a encontrar uma boa posição para amamentar, apoiando bem as costas em uma cadeira com braços.

Beatriz logo abocanhou a aréola e começou a sugar. –“Vejam” – disse Tônia –“ é muito importante verificar duas coisas. Primeiro, se ela encheu bem a boca com a maior parte possível da aréola. Segundo, se o lábio inferior ficou virado para baixo, fazendo beicinho. Esta é a pega correta. Caso isto não ocorra, podem surgir rachaduras e machucados no bico, além dela não se alimentar corretamente.”

O trabalho da fonoaudióloga surtiu efeito imediato. A avó se acalmou, a bebê mamou e a mãe descansou.

No dia seguinte, após uma noite tranqüila, interrompida apenas pelas mamadas e trocas de fraldas, todos estavam preparados para ir para casa. Dr. Gilbertoni passou cedo e deu alta para Manuela. Logo em seguida, chegou o Dr. Renato, que deu as últimas orientações antes da alta.

-“Sua filha já vai sair vacinada contra tuberculose e hepatite B. Quanto ao teste do pezinho, é melhor esperar setenta e duas horas antes de realiza-lo. Mas já vou deixar o pedido do teste mais completo, que detecta quase quarenta doenças. Alguma dúvida?”

Paulo tinha uma. –“ Doutor, estamos já em época de calor, não precisamos dar água para Beatriz?”

-“Não, normalmente os bebês que mamam bem o peito não precisam de água ou de qualquer outro alimento, até os seis meses de idade. Apenas em situações especiais o uso de água é necessário. E a sua pergunta me fez lembrar uma dessas situações especiais…

“Raramente os recém-nascidos têm febre. – disse Renato. –“Quando isso ocorre, de modo geral, é por motivos simples, como excesso de roupa ou falta de água. Ou então, muito mais raramente, por doenças sérias, como uma infecção urinária ou até uma meningite.

Certa vez, em época de pleno verão, eu estava atendendo um bebê e fiquei preocupado. O recém-nascido na minha frente, no consultório, estava com febre, mas usava pouca roupa. E a família jurava que estava oferecendo, com freqüência, bastante água para o bebê.

Terminei o exame e sentei-me para pedir uma investigação laboratorial, já que as causas comuns de febre nessa idade estavam afastadas. Comecei a preencher os papéis, quando o jovem pai do bebê me interrompeu. –“Sabe, doutor o problema é que está cada vez mais difícil dar a água quente para o bebê, ele está recusando.”

-“Água quente?” – assustei-me, quase caindo para trás. –“Vocês estão dando água quente para o bebê, com este calor?” –“Pois foi assim que minha mãe nos ensinou” – respondeu o paizinho –“ para o bebê, tem que ser tudo quente…”

Orientei-os a darem água sempre fresca para o bebê. Assim, a febre desapareceu, junto com a suspeita de infecção urinária ou meningite. Vejam como é importante conversar calmamente com os pacientes. Desta forma evita-se erros e condutas desnecessárias.

Como já disse um autor médico, “às vezes a doença conta seu segredo em um pequeno parênteses da conversa…”

Na Maternidade Bom Parto, um novo dia se iniciava. E novas histórias, incríveis e únicas, ainda estavam por acontecer…

Ruy do Amaral Pupo Filho
Pediatra, Sanitarista e Escritor

 
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