Gestantes
Esta seção vai ajudar as gestantes a entenderem melhor o milagre da gravidez
Plantão Médico – A cara do pai
A cara do pai
Na sala dos médicos, todos ouviram calados a história do Dr. Ariel. Quando ele terminou, a residente quebrou o silêncio. –“Incrível, doutor Ariel, mas este caso mostrou a importância de seguirmos os padrões mesmo em situações de emergência. Se pelo menos uma menina tivesse sido identificada… Agora, duas pacientes que traíram os maridos e engravidaram de outros homens? Isso é raro, não é? Foi muita coincidência, não?” – perguntou ela.
Um médico que observava de longe, só escutando a conversa, interrompeu. –“Ao contrário, minha jovem, como especialista em medicina fetal, posso lhe assegurar que esta é uma ocorrência muito mais comum do que se possa imaginar. Homens que crêem ser pais mas não são… E isso acontece em qualquer classe social, diga-se de passagem. Não é privilégio dos pobres, como pensam muitos…”
E o Dr. Delano complementou, em tom professoral: -“Como diz o ditado, a maternidade é sempre certa, mas a paternidade é apenas presumida…” Levantou-se e entrou no Centro Obstétrico para fazer outra cesariana. Mas as atividades continuavam e a conversa prosseguiu. A cada instante outros médicos entravam e saiam da sala.
Numa das salas de cesariana, mais uma cirurgia ia começar. Sem saber, a equipe que lá trabalhava ia testemunhar que a afirmação do especialista em medicina fetal era verdadeira.
Costumeiramente durante os partos cirúrgicos, em especial quando tudo está correndo bem, os membros da equipe brincam e contam piadas. Isto serve para descontrair a todos, inclusive as pacientes, aliviando as tensões. Afinal, o parto é uma festa e todos estão felizes.
E naquela grande maternidade, não era diferente. A exceção ficou por conta do Dr. Renato, o pediatra que estava na sala de parto para receber o bebê. Cincoentão, médico experiente e muito conhecido, normalmente bem-humorado, estava calado e pensativo. Muito preocupado, não participava das conversas e brincadeiras…
O anestesista realizou seu trabalho, injetando uma pequena quantidade de anestésico nas costas de Sílvia e deu sinal verde para o início da cirurgia. Com gestos precisos, o obstetra começou a cortar o abdômen da paciente. Os campos cirúrgicos azuis tingiram-se de um vermelho vivo, que parecia ainda mais brilhante devido a forte luminosidade vinda dos focos cirúrgicos.
Um a um, pele, tecido gorduroso sub-cutâneo, musculatura e peritônio, foram secionados. As artérias e veias foram amarradas para evitar hemorragias. Por fim, foi aberta a cavidade abdominal e apareceu o útero, gordo, brilhante, cheio de vida.
Nessa hora, sem que nada fosse dito, cessaram as brincadeiras e fez-se silêncio na sala. Aproximava-se o momento do nascimento e como sempre, por tensão, respeito, ou por alguma outra razão, todo mundo se calou.
O último corte foi feito e a parede uterina foi aberta, sangrando muito. Com movimentos ágeis, o obstetra colocou as mãos dentro da cavidade do útero e retirou o bebê, que imediatamente começou a chorar. Um menino! Coberto de sangue e do vernix caseoso, a cera que os protege da longa imersão na água, o bebê viu a luz pela primeira vez. Todos na sala comemoraram o nascimento saudável.
Dr. Renato se aproximou, todo paramentado com capote, gorro, máscara e luvas. Tinha um lençol cirúrgico esterilizado e aquecido nas mãos e nele recebeu o bebê. Levou-o a sala de recepção dos recém-nascidos, onde realizou os cuidados rotineiros. Colocou-o em um berço aquecido, enxugou, trocou o lençol molhado por um seco. Aspirou com uma sonda os líquidos que preenchiam suas vias aéreas. –“Se fosse um parto normal” – pensou – este líquido teria saído sozinho…” Clampeou o cordão umbilical e terminou as avaliações. Percebeu, de imediato, que o bebê era um pouco prematuro, mas saudável.
Enquanto voltava à sala de parto para mostrar o bebê e colocá-lo para mamar na mãe, sua preocupação redobrou.
-“E agora?”- pensou – “O que vou dizer para o pai, que está lá fora aguardando?”
A preocupação do Dr. Renato havia começado cerca de um mês antes.
Silvia, já de barriga grande, adentrou ao seu consultório. Veio sozinha, para uma consulta. Estranho?
O Dr. Renato nada estranhou, pois como pediatra antigo, estava acostumado a consultar gestantes e a acompanhar seus partos, cuidando dos bebês. Também sabia que os pais raramente participam das consultas.
Silvia era esposa de Paulo, seus amigos de longa data. Costumavam se encontrar no clube nos fins de semana e até já haviam viajado juntos para a Europa, anos antes.
- “Olá, dona Sílvia, como vai, vamos entrar!”- disse Dr. Renato. –“E como vai o seu marido, Paulo? Pena que ele não pôde vir. Mande a ele minhas recomendações!”
Dona Sílvia se instalou na confortável poltrona do luxuoso consultório.
-“Dr. Renato, vim hoje consultá-lo, pois quero que o senhor esteja presente na hora do meu parto para atender meu bebê. Eu demorei muito para conseguir engravidar e quero o melhor para meu filho. O senhor sabe que eu já tenho trinta e seis anos, e que as “mães velhas” são as piores!”
Dr. Renato sorriu meio amarelo e discordou.
-“Que nada, dona Sílvia, não diga isso!”. “Piores?”- pensou ele – “São terríveis!” Mas prosseguiu com a consulta –“Dona Silvia, estarei lá na hora de seu parto, se Deus quiser! Mas há uma série de perguntas que preciso lhe fazer. Eu necessito de várias informações para garantir a saúde de seu futuro bebê. A senhora pretende ter um parto normal?”
-“Pois não, doutor. Bem, antes de qualquer coisa, quero lhe dizer que meu parto vai ser uma cesariana. Deus me livre de um parto normal, que coisa mais antiquada! Já marquei uma consulta com meu tarólogo e ele vai marcar a melhor data para meu bebê nascer, depois eu informo ao senhor.” – retrucou a madame. –“O que mais o senhor quer saber?”
Dr. Renato respirou fundo. Mais uma cesariana com data marcada! Daquelas em que a paciente sequer entra em trabalho de parto… fator tão importante para ajudar a amadurecer o bebê. Ele sabia que o parto normal, quando possível, era o melhor para o bebê e para a mãe.
Na cesariana marcada, a chance de nascimento de um prematuro, ou de um bebê com problemas respiratórios é grande. Mas o doutor tinha consciência de que não adiantava nada tentar “doutrinar” a paciente. Era uma guerra perdida, a epidemia de cesarianas já estava fora de controle. Se ao menos os médicos colaborassem em uma campanha de esclarecimento…
Assim, derrotado mas resignado, ele começou a anamnese, fazendo as perguntas habituais.
- “Bem, dona Silvia, vamos lá”- disse ele – “Eu preciso saber detalhes de sua gravidez, bem como de sua saúde e de seu marido.” E foi fazendo as perguntas.
“A gravidez foi programada? Quando foi a data da última menstruação? Tudo está correndo bem? Os exames de laboratório e de ultra-som estão normais?”
A tudo Silvia respondia de pronto, sem hesitar. Mas sua atitude mudou quando o Dr. Renato passou a fazer perguntas sobre o casal.
- “Dona Silvia, qual o seu tipo de sangue?”
- “Letra O, fator Rh negativo” – respondeu ela.
- “E o do Paulo?” – perguntou Dr. Renato.
- “B negativo, doutor” – disse ela, meio contrariada. Após pensar por algum tempo, ela indagou: – “Dr. Renato, me diga, se o sangue dele for positivo muda alguma coisa?”
“Bem, dona Silvia, pode mudar sim. Como seu Rh é negativo, se o do Paulo for positivo há chance do bebê ser positivo também. E aí pode haver problemas de icterícia elevada. A senhora já deve ter ouvido falar, é aquele amarelão no corpo do bebê. Quando a mãe é Rh negativo e o bebê positivo, a chance de uma icterícia mais severa é bem maior. Se não está certa, procure confirmar o tipo sanguíneo do Paulo.”
Ela se remexeu, se arrumou na poltrona, mas nada disse.
-“Dona Silvia, quais as doenças que a senhora e o Paulo já tiveram? E quais as doenças que existem nas famílias de vocês?
Demonstrando cada vez mais desconforto, Silvia começou a responder, mas interrompeu uma frase no meio. Respirou fundo, pensou por alguns instantes, criou coragem. Olhou bem nos olhos do Dr. Renato e disse, em tom altivo e desafiante:
-“Doutor, pela saúde de meu filho eu faço qualquer coisa. Até confessar um grande segredo. Há algo muito importante que o senhor deve saber. Este filho não é do meu marido. Portanto eu vou passar ao senhor os dados da saúde do verdadeiro pai da criança.”
Dr. Renato já havia passado por muitas ”saias-justas” ao longo de sua vida profissional, mas não estava preparado para aquela situação. Ele conhecia o casal de longa data, e era amigo de Paulo!
Ele tentou manter a pose profissional, mas não conseguiu disfarçar o espanto e a surpresa. Meio sem fôlego, de boca aberta e queixo caído, ele apenas balbuciou um “está bem”.
E a entrevista prosseguiu, com dona Silvia informando sobre a saúde do pai da criança. Cuja identidade ela não revelou e o Dr. Renato não teve coragem de perguntar.
Na sala de espera da maternidade, Paulo aguardava com ansiedade. Quem já passou por isso sabe, é umas das mais terríveis esperas do mundo! Passa tanta coisa pela cabeça dos pais! Após tantos anos e muitas tentativas, finalmente o seu filho ia nascer. Um menino! Quantos planos para o futuro… até o nome já estava escolhido, Paulo Jr.! Paulinho!
Finalmente, a porta do centro obstétrico se abriu e surgiu o Dr. Renato. Ainda paramentado, com o rosto quase totalmente coberto pelo gorro e pela máscara cirúrgica, o Dr. Renato saiu da sala de parto com o bebê no colo.
-“E aí, doutor, foi tudo bem? Posso ver meu bebê?” – disse Paulo, mal contendo a ansiedade, a emoção e as lágrimas.
Dr. Renato estava sentindo-se um crápula. Mas, protegido pela máscara, conseguiu esconder suas emoções e mostrou o bebê ao Paulo.
-“Acho que o seu tarólogo se enganou um pouco com a data”- disse Dr. Renato. -“Ele nasceu um pouco antes do tempo, mas ainda assim é saudável.” E antes de dirigir-se ao berçário, ainda teve coragem de dar o golpe final:
- “Veja, Paulo, mas não é a sua cara?”
Paulo abriu um largo sorriso. Segurou em seus braços, com carinho e cuidado, o bebê que pensava ser seu filho. E deu-lhe um terno beijo na testa.
E esta foi a última vez que o doutor Renato os viu. Por alguma razão, Silvia e Paulo mudaram de clube e de pediatra.
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